DETACHMENT / TONY KAYE / EUA, 2011 / 100 min.
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A melancolia que transborda no olhar de Adrien Brody em Desapego não traz em sua natureza
qualquer amargura. É uma melancolia de aceitação, de penúria e conformação. Não
há revolta em si, apenas uma grande tristeza e uma completa desesperança.
Parte deste desconsolo vem de sua vida pessoal, do um vazio
que parece não saber preencher; a outra parte vem de seu trabalho como
professor de escola pública. Brody interpreta o professor Henry Barthes,
substituto que chega a uma escola pública para um curto período de aulas. Sem
surpresa, o que ele encontra entre seus colegas é um reflexo de si mesmo; professores
que vão da apatia ao total desinteresse passando pelo cinismo irremediável.
Na sala de aula, o reflexo que vê - também sem novidade para
ele - é o do desolador sistema de ensino publico relegado aos desfavorecidos.
Jovens que no mar de sua juventude sem perspectivas só encontra autoestima na
rebeldia e afronta; algumas vezes nem nisso.
Fora do trabalho, Barthes catalisa em sua tristeza o passado
traumático com o suicídio da mãe, enquanto cuida afetuosamente de seu avô
materno, internado com Alzheimer. Em sua solidão, Barthes é investido de uma
humanidade pungente. Ela está expressa no modo como passa a tratar uma jovem
prostituta que conhece na rua. Uma relação na qual ele despeja o pouco de
esperança que tem na vida, mas sem esperar grandes resultados.
Desapego não é um
filme de redenção, embora esta utopia não esteja ausente de uma parte de sua
estrutura final, num modo talvez até esquemático, mas mesmo assim de uma
comoção esmagadora.
O filme é antes de tudo um recorte contundente da insanidade
que pode assombrar uma escola pública de periferia nos EUA. Barthes funciona
como um eixo de uma série de fragmentos desse cotidiano. A partir dele
conhecemos personagens contaminados por esse sistema perverso e insolúvel. De
um lado, os professores à margem da desesperança e do abandono, sofrendo
pressões desmedidas. De outro lado os alunos, vítimas de si mesmos, condenados
à marginalidade.
São marcantes as participações de nomes como Lucy Liu, James
Caan, Marcia Gay Harden, Blythe Danner e Christina Hendricks como professores e
dirigentes que estão no limite de sua capacidade de tolerância. Mas é de Adrien
Brody o brilho de uma atuação tão tocante quanto a que ele alcançou em O Pianista.
Fragmentado de poesia, dor e desilusão, Desapego transborda de um sentimento reprimido, represado diante
da impotência. Um sentimento que contamina a todos, que se revela perverso no
escape que encontra quando o desabafo é inevitável. Um filme de uma beleza
melancólica árdua, contrita na impossibilidade da esperança e na catarse de um
mundo triste. Desoladoramente triste.
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Muito bom, até agora o melhor filme que vi do gênero em 2012.
Parabéns pela crítica!