THE IDES OF
MARCH / GEORGE CLOONEY / EUA, 2011 / 101 MIN.
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Com um elenco de primeiro time - e não um primeiro time de
celebridades, mas de talento - George Clooney volta à direção com um filme
sobre a fragilidade e a dissolução da integridade. Como aconteceu em Boa Noite e Boa Sorte (2005) é o
engajamento político de Clooney que o leva a filmar uma história em que lealdade,
caráter e princípios éticos podem ser tão flexíveis quanto pesquisas
eleitorais.
A trama se passa durante uma campanha das primárias dentro do
partido Democrata. A disputa interna está polarizada entre o senador Pullman
(Michael Mantell) e o governador Morris (George Clooney). É nos bastidores da
campanha de Morris que se concentra a trama.
O chefe de campanha de Morris é Paul Zara (Philip Seymour
Hoffman), um experiente estrategista que preza, acima de tudo, a lealdade. Paul
tem como seu braço direito o dedicado e brilhante Stephen (Ryan Gosling,
afinadíssimo no papel), um talento promissor que acredita com veemência na
integridade e competência de Morris para governar o país.
Perto de conseguir um apoio que pode ser decisivo para que
Morris seja o escolhido, Paul viaja para selar o acordo. Enquanto ele está fora,
Stephen é assediado pelo líder do candidato concorrente, Tom Duffy (Paul
Giamatti). Com lisonjas e uma informação que pode mudar o rumo dos
acontecimentos, Duffy tenta convencer Stephen a mudar de lado.
Diante do quadro, logo se vê que se trata de um jogo pesado.
O encontro de Duffy e Stephen desencadeia uma série de acontecimentos que
culminarão em tragédia, chantagens e reviravoltas inesperadas. Baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, Tudo Pelo Poder expõe o jogo sujo da
política de forma pessimista, mas sem o cinismo que muitas vezes contamina esse
tipo de filme.
A trama desmonta cada um dos articuladores desse universo de
raposas, lobos e falsos inocentes. Ao desestruturar uma série de relações
entrelaçadas pelo jogo político, o filme desmistifica idealismos e princípios,
mostrando como a presumida rigidez de caráter pode se desmanchar irreversivelmente;
ou nunca ter existido de fato. É um filme que fala sobre queda, no sentido
bíblico da palavra.
Com brilhantismo, Clooney dirige esta trama desdobrando o
caráter das peças em jogo e desmascarando cada uma delas. Entre os respingos de
lama, também se dá a mise-en-scène do
relacionamento da política com os veículos de imprensa. Uma promiscuidade
baseada na falsidade e ironia das relações entre políticos e jornalistas. Nesta
teia de interesses, o que prevalece é a “coragem” de sujar as mãos, de
manter-se acima. Mesmo que o preço seja a venda de sua alma e o esfacelamento
de sua integridade.
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