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Eduardo Coutinho, diretor de um dos mais
importantes documentários do cinema nacional (Cabra Marcado para Morrer, de
1984), também é conhecido por ser um inovador incansável. Seus trabalhos
recentes “Jogo de Cena” e “Moscou”, mostram um inquieto documentarista que
explora os limites incertos entre a ficção e o documentário. Agora, em seu novo
filme, “As Canções”, o diretor repete o esquema de “Jogo de Cena”, mas sem
brincar com a ficção. O resultado soa como algo requentado, mas ainda assim com
bastante sabor.
Diante da câmera de Coutinho, personagens comuns
se revezam contando histórias e cantando canções. Estão ali para dizerem – e
cantarem – quais músicas marcaram suas vidas e por quê. Surgem daí histórias
dolorosas, de perdas irreparáveis, de remorsos constantes, de vidas marcadas
pelo amor, pela paixão e por canções populares. Em alguns casos, é difícil não
se emocionar; em outros, o difícil é não rir.
Essa convivência entre o trágico e o cômico
mostra a capacidade que Coutinho tem de explorar a vida em suas singularidades.
Seus personagens muitas vezes se contradizem, são confusos em suas narrativas.
Todos, no entanto, entregam ao diretor uma carga rara de sentimento, de
verdade, de autenticidade.
Usando as canções como o elo mais forte entre a memória
e o sentimento, o diretor evoca o que todos nós guardamos no íntimo, muitas
vezes sem nos darmos conta. Como o entrevistado que chora com uma canção que
sua mãe entoava na sua infância. Desconcertado, não entende porque foi ás
lágrimas, já que sua mãe ainda está viva e bem.
Menos inventivo que os filmes anteriores de
Coutinho, “As Canções” não deixa de ser uma continuação de busca do diretor por
verdades individuais, em oposição a verdades universais.
Reside aí seu jogo de espelhos, presente de
forma muito mais sutil neste filme. Seu reflexo mais nítido pode ser encontrado
na última frase do filme, quando uma entrevistada admite que sua relação com o
homem que ama não vai dar em nada. Conformada, ela tenta encontrar a felicidade
em outro lugar. E diz: “Procurei outro caminho. E continuo procurando”. Uma boa
tradução para o cinema de Eduardo Coutinho.
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Cotação: * * *
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