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É indiscutível a importância do resgate e preservação da memória e da
história de um povo. Importância que está acima de linhas formais ou estéticas.
Este é o caso de Marighella, documentário
que pretende desdobrar um pouco mais da vida de Carlos Marighella, controverso
líder da luta armada no Brasil durante a ditadura militar.
A linha de partida para a realização dessa investigação é a memória
afetiva de sua sobrinha, Isa Grinspum Ferraz, realizadora do filme. Como ela mesma diz no início do
documentário, mais do que entender quem foi Marighella a ela interessava
descobrir quem foi seu tio Carlos; um sujeito que aparecia e desaparecia de sua
infância, mas que a deixou marcada pela figura amorosa e misteriosa.
Essa investigação segue pistas que dão nome aos capítulos do
documentário. Cada pista/capítulo desvenda uma faceta do mito Marighella. E a
cada desdobramento, muitas facetas se misturam para formar um retrato em
múltiplas dimensões. Com essas facetas, o resultado inconcluso parecer ser o
mais adequado ao ser humano, antes do mito - com seus acertos e erros, com suas
idiossincrasias e contradições.
Formalmente, contudo, o documentário repete o cansativo repertório de “cabeças
falantes”. É o nome que se dá ao velho formato que alterna muitas entrevistas
(enquadradas em plano médio, daí o termo em inglês talking heads) com imagens de arquivo. Cansativa e repetitiva, essa
fórmula funciona mal quando o filme se apoia em excesso sobre ela.
Neste caso, para uma personalidade que passou a vida dedicada a uma
causa, o resultado acaba por ser frio, distante do calor do momento histórico
que revive. A falta de imagens novas da época ou de documentos também contribui
para uma pobreza de arquivo. Isso é visualmente notado quando muitas vezes se
preenche o quadro com cenas de filmes ou imagens “forçadamente” vinculadas à
narrativa.
Com nada de inventivo em sua fórmula, Marighella fica como mais uma peça do mosaico que há tempos nosso
cinema tenta compor sobre os anos da ditadura e as figuras que cumpriram papéis
importantes nesse período. É relevante como registro, mas muito pobre como
cinema.
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