BETO BRANT E RENATO CIASCA / BRASIL, 2011 / 100 MIN.
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Renato Ciasca, um dos diretores de Eu Receberia..., disse pouco antes da sessão começar que esse era
um filme sobre o amor incondicional. Após a sessão, Beto Brant, o outro
diretor, ressaltou o aspecto sensorial da obra, muito mais que o narrativo;
como no livro homônimo de Marçal Aquino, no qual a história é baseada.
Em Eu Receberia...
há, de fato, ambas as coisas. Um amor desmedido e uma intenção sensorial no
modo como a trama se desenrola. Já no primeiro plano do filme, que logo depois
se revelará desconectado da narrativa, temos essa impressão.
Sem rodeios, conhecemos Lavínia (Camila Pitanga). Sua
primeira aparição revela um desconcerto. Depois, o fogo inconsumível. Em uma
cidade no interior do Pará, ela se entrega ao forasteiro Cauby (Gustavo Machado). Ele é
fotógrafo profissional, não sabemos de onde vem nem porque está lá. Lavínia é
esposa do líder religioso da comunidade. Essa relação levará ambos a enfrentar graves
consequências.
O amor de Lavínia e Cauby só pode ser entendido pelo
sensorial. Brant e Ciasca entenderam isso muito bem. No livro, a construção
dessa relação perpassa tempos mortos intercalados pela efervescência das horas
de sexo. Isso também foi entendido pelo filme, que traz cenas quentes da nudez
de Camila Pitanga.
Mas é justamente o excesso de “entendimento” do livro e a
transposição disso para a tela o problema do filme. Não que a adaptação caia no
erro da literalidade, o que seria um desastre. Mas para tentar traduzir o
intangível da relação dos amantes, arrisca uma construção que distende e ao
mesmo tempo fragmenta o tempo. O excesso de fade
out entre os planos atravanca o fluxo narrativo e o filme nunca alcança a
tensão que existe nos perigos que anuncia.
Como o que há de mais sólido na aventura desses amantes é o
perigo iminente e as consequências inesperadas, o filme perde esse vigor e faz
tudo seguir sem a dimensão dos conflitos e com evasivas ameaças. Quando o mundo
finalmente desaba, não há dramaticidade. Tanto atores como os acontecimentos
parecem uma conformação achatada e apática de uma tragédia sem retorno.
Em um efeito reverso, o filme que tentava intensificar a
paixão, acaba por resumi-la a cenas de sexo e reações adversas de Lavínia.
Mesmo contando em longo flashback a natureza de seu casamento, não consegue
dar-lhe mais profundidade que a da mulher emocionalmente instável e ardorosa
amante. Ao adaptar um bom livro, as intenções eram ótimas, mas o resultado acaba
sendo fraco.
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