terça-feira, 8 de novembro de 2011

Do formato de seleção ao formato de exibição, os desafios da próxima Mostra


Encerrada a 35ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, seria hora de fazer um balanço da edição. Porém, diante das novidades e pesares deste ano, mais do que um balanço, é hora de olhar para seus novos desafios, que não são poucos.

A edição deste ano foi marcada pela morte de seu idealizador, Leon Cakoff, vítima de câncer. Cakoff criou a Mostra em 1977, no MASP, com 22 filmes na programação. Desde então, o evento cresceu a proporções gigantescas, passando a ter exibições em dezenas de salas e chegando a mais de 400 filmes selecionados; um gigantismo que passou a ser alvo de criticas.

A Mostra sempre foi “a Mostra do Cakoff”, que também era chamado de “Sr. Mostra”. Estes dois “títulos” exemplificam o caráter personalista que o evento tinha em razão do pulso firme de Leon em fazer o evento a seu modo e semelhança. Com sua morte, a pergunta que fica é qual será a “cara” da Mostra daqui em diante.

Parte da resposta está nas mãos de Renata de Almeida, viúva de Cakoff e seu braço direito na organização do evento desde 1989. É dela a responsabilidade de levar adiante o legado de Cakoff. Renata ainda não definiu como será esse futuro, mas acena com a possibilidade da criação de um conselho da Mostra, encarregado, entre outras coisas, da seleção dos filmes.

O certo é que a Mostra deve mudar nos próximos anos. Já nesta 35ª edição, algumas dessas mudanças foram colocadas a prova. A principal delas foi no critério para seleção de filmes. Pela primeira vez, o evento só admitiu em sua seleção de filmes internacionais obras inéditas no país. A consequência imediata foi uma queda no número de filmes: dos habituais cerca de 400 para cerca de 300.

A ideia partiu do próprio Cakoff, que mesmo com a saúde afetada pelo agravamento de sua doença acompanhou e palpitou na elaboração desta edição. A proposta de Cakoff pegou a equipe de surpresa e houve resistência. Mas prevaleceu, como sempre, a vontade do Sr. Mostra.

O resultado foi uma Mostra mais enxuta e com mais sessões de cada filme. Muita gente gostou. Por outro lado, esta mudança não deixou de criar polêmicas e ausências pesadas.

Uma das polêmicas envolveu o filme brasileiro As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, que foi cortado da programação na última hora. Pelos critérios de ineditismo para filmes nacionais, a obra não precisava ser inédita no Brasil, mas tinha que ser inédita em São Paulo. A organização da Mostra justificou a retirada do filme alegando que recebera a informação de que o filme já havia sido exibido na cidade.

Em nota publicada na página do filme no Facebook (clique aqui para ler), os diretores de As Hiper Mulheres lamentaram a exclusão de sua obra da Mostra. Alegaram que o filme segue inédito em São Paulo e que a exibição ao ar livre que ocorreu na Cinemateca Brasileira, em junho, foi de um corte provisório em DVD de trabalho. O corte final nunca teria sido exibido por aqui.

No campo das ausências, a mais sentida foi o novo filme do espanhol Pedro Almodóvar, A Pele que Habito. Frequentador assíduo da Mostra com seus filmes – e por vezes pessoalmente -, sua nova produção não pôde entrar na programação por ter sido exibida no Festival do Rio, semanas antes. Um fato que ilustra de certa forma a razão por trás do novo critério.

Por ocorrer perto do final do ano, a Mostra chega sempre depois que muitos festivais importantes no país já aconteceram. Em especial o Festival do Rio, que termina poucos dias antes da Mostra começar. Ao exibir filmes que já haviam sido exibidos e comentados pela imprensa anteriormente, o evento de São Paulo sofria um pequeno desprestígi, perdendo em destaque para seu principal oponente carioca.

Se de um lado o novo critério garante maior destaque para a Mostra, por outro priva o público de São Paulo de ver alguns filmes interessantes. Obras com poucas chances de chegar ao circuito comercial da cidade e que tinham na Mostra a única chance de passar por aqui.

Mas talvez o grande “calcanhar de Aquiles” da Mostra não esteja no formato da seleção, mas no formato digital de exibição. Foram as dezenas de problemas com as exibições digitais, que este ano geraram grande estresse no público. A gravidade e a recorrência de mudanças na programação e de atrasos e problemas técnicos nas sessões levaram a organização da Mostra e emitir uma nota de esclarecimento durante o evento.

Na nota (leia aqui na íntegra), a organização explica que tem preferência por receber de seus selecionados cópias em película, mas que não pode impor um formato de suporte a quem convida para participar. Como o mercado está em franca transição da película para o digital e como o custo da cópia digital é muito mais vantajoso, as produtoras convidadas para exibirem filmes na Mostra preferem enviar cópias digitais. O mesmo, segundo a nota, ocorre em festivais de renome internacional, como Cannes e Berlin.

No entanto, a nota deixa vago o motivo real de tantos problemas técnicos, dando a entender que parte do problema se deve ao atraso das salas na atualização tecnológica para exibição em formato digital.

De qualquer forma, o fato é que muitos problemas foram relatados pelo público e pela imprensa que cobriu o evento. Foi o caso de uma das projeções do aguardado Habemus Papam, que foi exibido sem legendas e com problemas nas cores. Entre os mais exaltados, as críticas foram duras. Entre os mais fleumáticos (ou amigos dos organizadores) o tom foi de condescendência. Já a solução definitiva, espera-se, fica para o ano que vem.

Agora é aguardar a 36ª edição e ver como será a cara da Mostra nos próximos anos. Os desafios estão postos á mesa, resta saber como serão desbastados.
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NOTÍCIA - Mostra termina hoje; repescagem começa amanhã.


Como já é tradição, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo promove até o dia 10 de novembro a repescagem da Mostra. Com 37 filmes selecionados para compor esta repescagem, o público tem nova oportunidade para ver filmes que fizeram parte da programação oficial. As exibições acontecem no Cinesesc (até o dia 6/11) e no Unibanco Arteplex 1 (até o dia 10/11).

O grande destaque desta repescagem é a película Fausto, do russo Alexander Sokurov. Vencedor do Leão de Ouro no último Festival de Veneza, o filme não entrou na programação regular da Mostra, pois será exibido para convidados hoje a noite, após a cerimônia de encerramento desta 35ª edição. Por isso, a repescagem será a única chance para o público ver o filme ainda este ano, já que ele só chega aos cinemas daqui em março de 2012.

Confira abaixo a programação completa:


35ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA EM SÃO PAULO - PROGRAMAÇÃO EXTRA

04/11/2011 - Sexta

UNIBANCO ARTEPLEX 1

14:00
COMBAT GIRLS (KRIEGERIN), de David Wnendt (103'). ALEMANHA. Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

16:00
O FUTURO (THE FUTURE), de Miranda July (91'). ALEMANHA, EUA. Falado em inglês. Legendas em português. Indicado para: 12 anos.

17:50
O OUTRO LADO DO SONO (THE OTHER SIDE OF SLEEP), de Rebecca Daly (88'). IRLANDA, HOLANDA, HUNGRIA. Falado em húngaro, inglês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

19:30
O MUNDO DE CORMAN: AVENTURAS DE UM REBELDE DE HOLLYWOOD (CORMAN'S WORLD: EXPLOITS OF A HOLLYWOOD REBEL), de Alex Stapleton (86'). EUA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

21:10
OS DIAS VERDES (GREEN DAYS), de Hana Makhmalbaf (73'). IRÃ. Falado em farsi. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

CINESESC

14:00
IRMÃS JAMAIS (SORELLE MAI), de Marco Bellocchio (110'). ITÁLIA. Falado em italiano. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

16:00
THE MEXICAN SUITCASE (THE MEXICAN SUITCASE), de Trisha Ziff (89'). EUA, MÉXICO. Falado em inglês, espanhol, catalão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

17:49
SÁBADO INOCENTE (V SOBBOTU), de Alexander Mindadze (99'). RÚSSIA, ALEMANHA, UCRÂNIA. Falado em russo. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16 anos.

19:50
ATTENBERG (ATTENBERG), de Athina Rachel Tsangari (95'). GRÉCIA. Falado em grego. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

21:40
FAUSTO (FAUST), de Alexander Sokurov (134'). RÚSSIA. Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

05/11/2011 - Sábado

UNIBANCO ARTEPLEX 1

14:00
TEUS OLHOS MEUS (TEUS OLHOS MEUS), de Caio Sóh (105'). BRASIL. Falado em português. Indicado para: 18 anos.

16:00
VIDAS PEQUENAS (VIDAS PEQUEÑAS), de Enrique Gabriel (102'). ESPANHA. Falado em espanhol. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

18:00
JOGOS DE VERÃO (GIOCHI D´ESTATE), de Rolando Colla (101'). SUÍÇA, ITÁLIA. Falado em italiano. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

20:00
CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS (CAVE OF FORGOTTEN DREAMS), de Werner Herzog (90'). EUA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

21:50
ATTENBERG (ATTENBERG), de Athina Rachel Tsangari (95'). GRÉCIA. Falado em grego. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

CINESESC

14:00
VAI-VAI: 80 ANOS NAS RUAS (VAI-VAI: 80 ANOS NAS RUAS), de Fernando Capuano (90'). BRASIL. Falado em português. Indicado para: Livre.

15:50
TERRA SUBLEVADA, PARTE 1, OURO IMPURO (TIERRA SUBLEVADA, PARTE 1, ORO IMPURO), de Fernando Solanas (120'). ARGENTINA, VENEZUELA. Falado em espanhol. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

18:10
HISTÓRIAS QUE SÓ EXISTEM QUANDO LEMBRADAS (HISTÓRIAS QUE SÓ EXISTEM QUANDO LEMBRADAS), de Julia Murat (98'). BRASIL, FRANÇA, ARGENTINA. Falado em português. Legendas em inglês. Indicado para: 12 anos.

20:10
FRANGO COM AMEIXAS (POULET AUX PRUNES), de Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud (91'). FRANÇA. Falado em francês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

22:00
FAUSTO (FAUST), de Alexander Sokurov (134'). RÚSSIA. Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

23:59
O MUNDO DE CORMAN: AVENTURAS DE UM REBELDE DE HOLLYWOOD (CORMAN'S WORLD: EXPLOITS OF A HOLLYWOOD REBEL), de Alex Stapleton (86'). EUA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.



06/11/2011 - Domingo

UNIBANCO ARTEPLEX 1

14:00
UMA INCRIVEL AVENTURA (AFRICA UNITED), de Debs Gardner Paterson (85'). INGLATERRA. Falado em inglês. Legendas em português. Indicado para: Livre.

15:45
MARATHON BOY (MARATHON BOY), de Gemma Atwal (98'). REINO UNIDO, ÍNDIA, EUA. Falado em oriya, inglês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

17:45
OS 3 (OS 3), de Nando Olival (80'). BRASIL. Falado em português. Indicado para: 14 anos.

19:30
CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS (CAVE OF FORGOTTEN DREAMS), de Werner Herzog (90'). EUA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

21:20
CUT (CUT), de Amir Naderi (132'). JAPÃO. Falado em japonês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14 anos.

CINESESC

14:00
THE YELLOW SEA (HWANG-HAE), de Na Hong-jin (140'). CORÉIA DO SUL. Falado em coreano. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

16:40
ARTIGAS (ARTIGAS - LA REDOTA), de Cesar Charlone (120'). ESPANHA, URUGUAI, BRASIL. Falado em espanhol. Legendas em português. Indicado para: 14 anos.

19:00
O OUTRO LADO DO SONO (THE OTHER SIDE OF SLEEP), de Rebecca Daly (88'). IRLANDA, HOLANDA, HUNGRIA. Falado em húngaro, inglês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

20:50
ATTENBERG (ATTENBERG), de Athina Rachel Tsangari (95'). GRÉCIA. Falado em grego. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.


07/11/2011 - Segunda

UNIBANCO ARTEPLEX 1

14:00
NAMORADA (GIRLFRIEND), de Justin Lerner (94'). EUA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16 anos.

16:00
MARIGHELLA (MARIGHELLA), de Isa Grinspum Ferraz (100'). BRASIL. Falado em português. Indicado para: Livre.

18:00
FRANGO COM AMEIXAS (POULET AUX PRUNES), de Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud (91'). FRANÇA. Falado em francês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

19:45
ATTENBERG (ATTENBERG), de Athina Rachel Tsangari (95'). GRÉCIA. Falado em grego. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

21:45
CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS (CAVE OF FORGOTTEN DREAMS), de Werner Herzog (90'). EUA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

08/11/2011 - Terça

14:00
À MARGEM DO XINGU - VOZES NÃO CONSIDERADAS (À MARGEM DO XINGU - VOZES NÃO CONSIDERADAS), de Damià Puig (90'). BRASIL, ESPANHA. Falado em português. Legendas em inglês. Indicado para: Livre.

15:50
A EDUCAÇÃO (DIE AUSBILDUNG), de Dirk Lütter (85'). ALEMANHA. Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16 anos.

17:30
FLOR SOBRE A PEDRA (TSVETOK NA KAMNE), de Sergei Paradjanov (71'). RÚSSIA. Falado em russo. Legendas eletrônicas em português. Curta: ARABESCOS PIROSMANI (ARABESKEBI PIROSMANIS TEMAZE), de Sergei Paradjanov(25'). Indicado para: 18 anos.

19:30
O OUTRO LADO DO SONO (THE OTHER SIDE OF SLEEP), de Rebecca Daly (88'). IRLANDA, HOLANDA, HUNGRIA. Falado em húngaro, inglês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

21:20
THE YELLOW SEA (HWANG-HAE), de Na Hong-jin (140'). CORÉIA DO SUL. Falado em coreano. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

09/11/2011 - Quarta

14:00
MARCELO YUKA NO CAMINHO DAS SETAS (MARCELO YUKA NO CAMINHO DAS SETAS), de Daniela Broitman (98'). BRASIL. Falado em português. Legendas em inglês. Indicado para: 12 anos.

16:00
UMA VIAGEM (IZLET), de Nejc Gazvoda (85'). ESLOVÊNIA. Falado em esloveno. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

17:45
TERRA SUBLEVADA, PARTE 2, OURO NEGRO (TIERRA SUBLEVADA, PARTE 2, ORO NEGRO), de Fernando Solanas (107'). ARGENTINA, VENEZUELA. Falado em espanhol. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

19:45
THE MEXICAN SUITCASE (THE MEXICAN SUITCASE), de Trisha Ziff (89'). EUA, MÉXICO. Falado em inglês, espanhol, catalão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

21:35
MOVIMENTO REVERSO (OBRATNOE DVIZHENIE), de Andrey Stempkovsky (93'). RÚSSIA. Falado em russian. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

10/11/2011 - Quinta

14:00
A EDUCAÇÃO (DIE AUSBILDUNG), de Dirk Lütter (85'). ALEMANHA. Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16 anos.

15:40
OS ÓRFÃOS (DIE VATERLOSEN), de Marie Kreutzer (105'). HOLANDA. Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: Livre.

17:40
THE YELLOW SEA (HWANG-HAE), de Na Hong-jin (140'). CORÉIA DO SUL. Falado em coreano. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 anos.

20:15
OLHANDO ESPELHOS (AYENEHAYE ROOBEROO), de Negar Azarbayjani (101'). IRÃ. Falado em farsi. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 12 anos.

22:15
MUNDO INVISÍVEL (MUNDO INVISÍVEL), de Vários (70'). BRASIL. Falado em português, inglês, armênio. Legendas eletrônicas em português. Curta: A MOSTRA - ESPECIAL, de  Helio Goldsztejn, Sonia Guimarães(56'). Indicado para: 14 anos.

Programação sujeita a alterações.
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CRÍTICA - Desapego


DETACHMENT / TONY KAYE / EUA, 2011 / 100 min.
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A melancolia que transborda no olhar de Adrien Brody em Desapego não traz em sua natureza qualquer amargura. É uma melancolia de aceitação, de penúria e conformação. Não há revolta em si, apenas uma grande tristeza e uma completa desesperança.

Parte deste desconsolo vem de sua vida pessoal, do um vazio que parece não saber preencher; a outra parte vem de seu trabalho como professor de escola pública. Brody interpreta o professor Henry Barthes, substituto que chega a uma escola pública para um curto período de aulas. Sem surpresa, o que ele encontra entre seus colegas é um reflexo de si mesmo; professores que vão da apatia ao total desinteresse passando pelo cinismo irremediável.

Na sala de aula, o reflexo que vê - também sem novidade para ele - é o do desolador sistema de ensino publico relegado aos desfavorecidos. Jovens que no mar de sua juventude sem perspectivas só encontra autoestima na rebeldia e afronta; algumas vezes nem nisso.

Fora do trabalho, Barthes catalisa em sua tristeza o passado traumático com o suicídio da mãe, enquanto cuida afetuosamente de seu avô materno, internado com Alzheimer. Em sua solidão, Barthes é investido de uma humanidade pungente. Ela está expressa no modo como passa a tratar uma jovem prostituta que conhece na rua. Uma relação na qual ele despeja o pouco de esperança que tem na vida, mas sem esperar grandes resultados.

Desapego não é um filme de redenção, embora esta utopia não esteja ausente de uma parte de sua estrutura final, num modo talvez até esquemático, mas mesmo assim de uma comoção esmagadora.

O filme é antes de tudo um recorte contundente da insanidade que pode assombrar uma escola pública de periferia nos EUA. Barthes funciona como um eixo de uma série de fragmentos desse cotidiano. A partir dele conhecemos personagens contaminados por esse sistema perverso e insolúvel. De um lado, os professores à margem da desesperança e do abandono, sofrendo pressões desmedidas. De outro lado os alunos, vítimas de si mesmos, condenados à marginalidade.

São marcantes as participações de nomes como Lucy Liu, James Caan, Marcia Gay Harden, Blythe Danner e Christina Hendricks como professores e dirigentes que estão no limite de sua capacidade de tolerância. Mas é de Adrien Brody o brilho de uma atuação tão tocante quanto a que ele alcançou em O Pianista.

Fragmentado de poesia, dor e desilusão, Desapego transborda de um sentimento reprimido, represado diante da impotência. Um sentimento que contamina a todos, que se revela perverso no escape que encontra quando o desabafo é inevitável. Um filme de uma beleza melancólica árdua, contrita na impossibilidade da esperança e na catarse de um mundo triste. Desoladoramente triste.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CRÍTICA - País do Desejo


PAULO CALDAS / BRASIL, 2011 / 90 MIN.
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Não parece haver muito do Paulo Caldas de Deserto Feliz no Paulo Caldas de País do Desejo. Ainda que uma certa fragmentação narrativa permaneça, bem como um refino técnico notável, neste segundo filme o que mais se sobressai é a ausência de uma força reconhecível e uma entrega a pontas soltas desnecessárias. Num único filme, assuntos demais, sérios demais, tendem a dizer coisas de menos. É o pecado da pretensão.

Maria Padilha é uma pianista com uma doença terminal nos rins. Exibe um ceticismo diante da vida e acha que a música que carregava dentro de si morreu antes dela. Fábio Assunção é um padre progressista, que não se opõe irracionalmente ao aborto e incentiva o uso da camisinha. Ela é filho de pai ateu, tem um irmão médico e a mãe em estado de coma há muito tempo.

Na construção dos personagens principais (o padre e a pianista) e no encontro entre ambos através do acaso, Caldas preenche seu filme com sugestões de subtramas que não se completam e parecem servir como um tempero que nunca provamos.

Há o médico e sua esposa que pretendem ir à Bulgária porque as mulheres búlgaras são lindas e fica-se por isso mesmo. A esta promessa de permissividade erótica é acrescentada a nova enfermeira da mãe em coma. Uma jovem japonesa que lê mangás eróticos e exala uma tentação inocente nas roupas que veste.

Tão solto quanto estas subtramas está o caso da menina de 12 anos violentada pelo tio e grávida de gêmeos. Inspirado num caso real que ocupou a mídia alguns anos atrás, a história da excomunhão da menina, da mãe e dos médicos que realizaram o aborto é o pretexto para um dos conflitos do filme. Mas tudo com tão pouca conexão entre si que o artificialismo acaba sendo o único fator relevante da história. Contribui para isso as atuações fracas, os diálogos artificiais e a tônica teatral de algumas cenas.

É a não conexão dos blocos, com suas elipses e sugestões incompletas, que desfigura esta trama. Sem em Deserto Feliz as elipses funcionavam como mosaico da tragédia e da salvação, embora nunca feliz de fato, aqui elas apenas desagregam as pontas soltas que poderiam formar uma linha uniforme e até coerente.

Desconstrutivo de si mesmo, Pais do Desejo acena com intenções demais e narrativa de menos. Quer falar de amor incondicional, intransigência religiosa, soberba clerical, verve erótica e relações familiares, mas brinca de ser livre e nessa brincadeira perde o fio da meada.
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terça-feira, 1 de novembro de 2011

CRÍTICA - No Lugar Errado


GUTO PARENTE, LUIZ PRETTI, PEDRO DIOGENES, RICARDO PRETTI / BRASIL, 2011 / 70 MIN.
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Diferente de seus trabalhos anteriores, o terceiro filme dos irmãos Pretti e primos Parente se sai como um drama psicológico de camadas finas. A grande diferença de No Lugar Errado para o ótimo Os Monstros e o excelente Estrada para Ythaca, é o registro e a dinâmica cênica. Se neste novo filme permanece a amizade como pilar de sustentação das relações de seus personagens, desta vez há uma série de complicadores que enriquecem o substrato afetivo. Sai de cena o confortável quase-lírico apaziguamento da amizade, entra a crise iminente. 

Das mudanças, a mais drástica diz respeito ao espaço cênico. Com a virtude da experimentação, os diretores se uniram ao diretor teatral Rodrigo Fischcer e filmaram a partir de sua peça Eutro. Toda a ação se dá em um palco, um espaço cênico definido e restrito. Com minimalismo cenográfico, o espaço é um apartamento no qual um casal recebe outro casal para uma celebração. 

Com a noite adentrando densa, a rarefeita bruma etílica vai abrindo caminho para algo mais do que a simples alegria inicial. Gestos e diálogos insinuam sentimentos impróprios, mágoas retesadas no tempo, tensões eróticas que afloram do proibido. Entre explosões insensatas, os personagens se revelam intimamente no oblíquo de suas ganas particulares; misturam frustrações, ressentimentos e angustias com o prazer da amizade e da lealdade posta a prova todo o tempo. Nunca são claros e óbvios e vão do afago á violência e de volta ao afago a cada nova fissura emotiva exposta pelo silêncio ou pelo grito. 

O rigor formal dos planos, marcado pela fotografia em preto e branco, age como um aprisionamento dos quatro personagens. São prisioneiros do plano, do quadro e daquela noite em que revelam e escondem ao mesmo tempo tantas camadas de suas necessidades humanas, carnais e sentimentais não atendidas. 

O claro propósito experimental de No Lugar Errado propõe o risco de errar e pode até duvidar de sua funcionalidade como cinema. Pois se nos trabalhos anteriores da trupe Pretti e Parente o conceito de "lugar" era ou amplo ou metafísico, aqui se mostra íntimo.

Talvez não funcione a contento como os outros filmes, mas se mostra vivo pela tentativa e pela disposição ao risco. Até mesmo no título da obra em relação a seu espaço cênico pode haver uma ironia que se abre a esse risco de estar filmando ou atuando no lugar errado. Mas aqui importa menos o erro e muito mais a experiência e a busca, já que o lugar certo pode ser tão etéreo quanto uma estrada para Ythaca.
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CRÍTICA - Tudo Pelo Poder


THE IDES OF MARCH / GEORGE CLOONEY / EUA, 2011 / 101 MIN.
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Com um elenco de primeiro time - e não um primeiro time de celebridades, mas de talento - George Clooney volta à direção com um filme sobre a fragilidade e a dissolução da integridade. Como aconteceu em Boa Noite e Boa Sorte (2005) é o engajamento político de Clooney que o leva a filmar uma história em que lealdade, caráter e princípios éticos podem ser tão flexíveis quanto pesquisas eleitorais.

A trama se passa durante uma campanha das primárias dentro do partido Democrata. A disputa interna está polarizada entre o senador Pullman (Michael Mantell) e o governador Morris (George Clooney). É nos bastidores da campanha de Morris que se concentra a trama.

O chefe de campanha de Morris é Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), um experiente estrategista que preza, acima de tudo, a lealdade. Paul tem como seu braço direito o dedicado e brilhante Stephen (Ryan Gosling, afinadíssimo no papel), um talento promissor que acredita com veemência na integridade e competência de Morris para governar o país.

Perto de conseguir um apoio que pode ser decisivo para que Morris seja o escolhido, Paul viaja para selar o acordo. Enquanto ele está fora, Stephen é assediado pelo líder do candidato concorrente, Tom Duffy (Paul Giamatti). Com lisonjas e uma informação que pode mudar o rumo dos acontecimentos, Duffy tenta convencer Stephen a mudar de lado.

Diante do quadro, logo se vê que se trata de um jogo pesado. O encontro de Duffy e Stephen desencadeia uma série de acontecimentos que culminarão em tragédia, chantagens e reviravoltas inesperadas. Baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, Tudo Pelo Poder expõe o jogo sujo da política de forma pessimista, mas sem o cinismo que muitas vezes contamina esse tipo de filme.

A trama desmonta cada um dos articuladores desse universo de raposas, lobos e falsos inocentes. Ao desestruturar uma série de relações entrelaçadas pelo jogo político, o filme desmistifica idealismos e princípios, mostrando como a presumida rigidez de caráter pode se desmanchar irreversivelmente; ou nunca ter existido de fato. É um filme que fala sobre queda, no sentido bíblico da palavra.

Com brilhantismo, Clooney dirige esta trama desdobrando o caráter das peças em jogo e desmascarando cada uma delas. Entre os respingos de lama, também se dá a mise-en-scène do relacionamento da política com os veículos de imprensa. Uma promiscuidade baseada na falsidade e ironia das relações entre políticos e jornalistas. Nesta teia de interesses, o que prevalece é a “coragem” de sujar as mãos, de manter-se acima. Mesmo que o preço seja a venda de sua alma e o esfacelamento de sua integridade.
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