quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CRÍTICA - O Outro Lado do Sono


THE OTHER SIDE OF SLEEP / REBECCA DALY / IRLANDA, HUNGRIA, HOLANDA, 2011 / 88 MIN.
--
Pesadelo ou realidade? O primeiro plano de O Outro Lado do Sono nos coloca diante de uma dúvida onírica. Como quando despertamos de um pesadelo, o filme se inicia com a estranheza de uma realidade pouco densa, incerta. Plano a plano, também como se despertasse lentamente, a dúvida vai cada vez mais se condensando, saindo do onírico e ganhando a realidade, sem nunca revelar a certeza.

Em uma cidade no interior da Irlanda, Arlene (Antonia Campbell-Hughes) vive sozinha em seu apartamento, próximo a uma floresta. Ela trabalha em uma fábrica local e leva uma vida solitária. Marcada pela perda da mãe quando era muito jovem, pode ter nesse trauma o princípio de seu distúrbio do sono. Arlene sofre de sonambulismo e teme o que possa acontecer durante os ataques desse distúrbio. Por isso, muitas vezes bloqueia a porta de seu apartamento com móveis antes de dormir.

Mas nem sempre isso é suficiente. Quando conhecemos Arlene ela acaba de despertar no meio da floresta, ao lado de um cadáver. Mas, como todo despertar, este está envolto pelo sono, indefinido na incerteza de sonho ou realidade.

Essa dúvida se intensifica quando se espalha na comunidade a notícia do assassinato de uma garota da região, cujo corpo foi encontrado naquela manhã na floresta. A partir desse momento a vida de Arlene imerge numa estressante agonia, fazendo com que ela se prive do sono ao mesmo tempo que coleciona notícias sobre a morte da garota.

Trabalhado como um suspense psicológico, o filme constrói uma atmosfera que goteja paranoia, neurose e esquizofrenia em doses sutis. Cria assim uma tensão permanente. A cadência narrativa é lenta, distendendo o tempo e prolongando a expectativa com eficiência. Entre algumas fragmentações e descontinuidade temporal, vemos Arlene experimentar a confusão mental, ao mesmo tempo que busca entender o que aconteceu.

Apresentando uma falha comum, O Outro Lado do Sono  prolonga-se demais, perdendo no final um pouco de sua tensão. Mesmo com essa falha, é um filme eficiente em fazer do medo e da dúvida o combustível do suspense. Acerta ao permear a história com tons de pesadelo, fragmentos de pensamentos, sensações e incertezas. Embora caia numa revelação final anticlimática, mostra-se bem resolvido dentro da atmosfera que o mantém sempre na névoa da dúvida.
--

0 comentários:

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.