terça-feira, 1 de novembro de 2011

CRÍTICA - No Lugar Errado


GUTO PARENTE, LUIZ PRETTI, PEDRO DIOGENES, RICARDO PRETTI / BRASIL, 2011 / 70 MIN.
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Diferente de seus trabalhos anteriores, o terceiro filme dos irmãos Pretti e primos Parente se sai como um drama psicológico de camadas finas. A grande diferença de No Lugar Errado para o ótimo Os Monstros e o excelente Estrada para Ythaca, é o registro e a dinâmica cênica. Se neste novo filme permanece a amizade como pilar de sustentação das relações de seus personagens, desta vez há uma série de complicadores que enriquecem o substrato afetivo. Sai de cena o confortável quase-lírico apaziguamento da amizade, entra a crise iminente. 

Das mudanças, a mais drástica diz respeito ao espaço cênico. Com a virtude da experimentação, os diretores se uniram ao diretor teatral Rodrigo Fischcer e filmaram a partir de sua peça Eutro. Toda a ação se dá em um palco, um espaço cênico definido e restrito. Com minimalismo cenográfico, o espaço é um apartamento no qual um casal recebe outro casal para uma celebração. 

Com a noite adentrando densa, a rarefeita bruma etílica vai abrindo caminho para algo mais do que a simples alegria inicial. Gestos e diálogos insinuam sentimentos impróprios, mágoas retesadas no tempo, tensões eróticas que afloram do proibido. Entre explosões insensatas, os personagens se revelam intimamente no oblíquo de suas ganas particulares; misturam frustrações, ressentimentos e angustias com o prazer da amizade e da lealdade posta a prova todo o tempo. Nunca são claros e óbvios e vão do afago á violência e de volta ao afago a cada nova fissura emotiva exposta pelo silêncio ou pelo grito. 

O rigor formal dos planos, marcado pela fotografia em preto e branco, age como um aprisionamento dos quatro personagens. São prisioneiros do plano, do quadro e daquela noite em que revelam e escondem ao mesmo tempo tantas camadas de suas necessidades humanas, carnais e sentimentais não atendidas. 

O claro propósito experimental de No Lugar Errado propõe o risco de errar e pode até duvidar de sua funcionalidade como cinema. Pois se nos trabalhos anteriores da trupe Pretti e Parente o conceito de "lugar" era ou amplo ou metafísico, aqui se mostra íntimo.

Talvez não funcione a contento como os outros filmes, mas se mostra vivo pela tentativa e pela disposição ao risco. Até mesmo no título da obra em relação a seu espaço cênico pode haver uma ironia que se abre a esse risco de estar filmando ou atuando no lugar errado. Mas aqui importa menos o erro e muito mais a experiência e a busca, já que o lugar certo pode ser tão etéreo quanto uma estrada para Ythaca.
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