terça-feira, 1 de novembro de 2011

CRÍTICA - Tudo Pelo Poder


THE IDES OF MARCH / GEORGE CLOONEY / EUA, 2011 / 101 MIN.
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Com um elenco de primeiro time - e não um primeiro time de celebridades, mas de talento - George Clooney volta à direção com um filme sobre a fragilidade e a dissolução da integridade. Como aconteceu em Boa Noite e Boa Sorte (2005) é o engajamento político de Clooney que o leva a filmar uma história em que lealdade, caráter e princípios éticos podem ser tão flexíveis quanto pesquisas eleitorais.

A trama se passa durante uma campanha das primárias dentro do partido Democrata. A disputa interna está polarizada entre o senador Pullman (Michael Mantell) e o governador Morris (George Clooney). É nos bastidores da campanha de Morris que se concentra a trama.

O chefe de campanha de Morris é Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), um experiente estrategista que preza, acima de tudo, a lealdade. Paul tem como seu braço direito o dedicado e brilhante Stephen (Ryan Gosling, afinadíssimo no papel), um talento promissor que acredita com veemência na integridade e competência de Morris para governar o país.

Perto de conseguir um apoio que pode ser decisivo para que Morris seja o escolhido, Paul viaja para selar o acordo. Enquanto ele está fora, Stephen é assediado pelo líder do candidato concorrente, Tom Duffy (Paul Giamatti). Com lisonjas e uma informação que pode mudar o rumo dos acontecimentos, Duffy tenta convencer Stephen a mudar de lado.

Diante do quadro, logo se vê que se trata de um jogo pesado. O encontro de Duffy e Stephen desencadeia uma série de acontecimentos que culminarão em tragédia, chantagens e reviravoltas inesperadas. Baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, Tudo Pelo Poder expõe o jogo sujo da política de forma pessimista, mas sem o cinismo que muitas vezes contamina esse tipo de filme.

A trama desmonta cada um dos articuladores desse universo de raposas, lobos e falsos inocentes. Ao desestruturar uma série de relações entrelaçadas pelo jogo político, o filme desmistifica idealismos e princípios, mostrando como a presumida rigidez de caráter pode se desmanchar irreversivelmente; ou nunca ter existido de fato. É um filme que fala sobre queda, no sentido bíblico da palavra.

Com brilhantismo, Clooney dirige esta trama desdobrando o caráter das peças em jogo e desmascarando cada uma delas. Entre os respingos de lama, também se dá a mise-en-scène do relacionamento da política com os veículos de imprensa. Uma promiscuidade baseada na falsidade e ironia das relações entre políticos e jornalistas. Nesta teia de interesses, o que prevalece é a “coragem” de sujar as mãos, de manter-se acima. Mesmo que o preço seja a venda de sua alma e o esfacelamento de sua integridade.
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