segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CRÍTICA - As Canções

EDUARDO COUTINHO / BRASIL, 2010 / 91 MIN.
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Eduardo Coutinho, diretor de um dos mais importantes documentários do cinema nacional (Cabra Marcado para Morrer, de 1984), também é conhecido por ser um inovador incansável. Seus trabalhos recentes “Jogo de Cena” e “Moscou”, mostram um inquieto documentarista que explora os limites incertos entre a ficção e o documentário. Agora, em seu novo filme, “As Canções”, o diretor repete o esquema de “Jogo de Cena”, mas sem brincar com a ficção. O resultado soa como algo requentado, mas ainda assim com bastante sabor.

Diante da câmera de Coutinho, personagens comuns se revezam contando histórias e cantando canções. Estão ali para dizerem – e cantarem – quais músicas marcaram suas vidas e por quê. Surgem daí histórias dolorosas, de perdas irreparáveis, de remorsos constantes, de vidas marcadas pelo amor, pela paixão e por canções populares. Em alguns casos, é difícil não se emocionar; em outros, o difícil é não rir.

Essa convivência entre o trágico e o cômico mostra a capacidade que Coutinho tem de explorar a vida em suas singularidades. Seus personagens muitas vezes se contradizem, são confusos em suas narrativas. Todos, no entanto, entregam ao diretor uma carga rara de sentimento, de verdade, de autenticidade.

Usando as canções como o elo mais forte entre a memória e o sentimento, o diretor evoca o que todos nós guardamos no íntimo, muitas vezes sem nos darmos conta. Como o entrevistado que chora com uma canção que sua mãe entoava na sua infância. Desconcertado, não entende porque foi ás lágrimas, já que sua mãe ainda está viva e bem.

Menos inventivo que os filmes anteriores de Coutinho, “As Canções” não deixa de ser uma continuação de busca do diretor por verdades individuais, em oposição a verdades universais.

Reside aí seu jogo de espelhos, presente de forma muito mais sutil neste filme. Seu reflexo mais nítido pode ser encontrado na última frase do filme, quando uma entrevistada admite que sua relação com o homem que ama não vai dar em nada. Conformada, ela tenta encontrar a felicidade em outro lugar. E diz: “Procurei outro caminho. E continuo procurando”. Uma boa tradução para o cinema de Eduardo Coutinho.
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Cotação: * * *

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