segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CRÍTICA - Isto Não é Um Filme

IN FILME NIST / JAFAR PANAHI / IRÃ, 2011 / 75 MIN. 
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Não há aqui uma figura de linguagem. Isto Não é um Filme não é um filme. Não é um filme porque seu idealizador, o premiado diretor iraniano Jafar Panahi, está condenado e proibido em seu país. Condenado a seis anos de prisão, cumpridos até agora em regime domiciliar; proibido de filmar ou escrever roteiros por 20 anos.

Jafar é vítima da ditadura iraniana, que vê em seus filmes subversivas propagandas contra o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Assim como outros cineastas e artistas do país, Panahi sempre sofreu com a censura e a perseguição. Mas desta vez, a justiça kafkaniana do Irã o condenou de forma brutal. É com o desejo de resistir que o diretor de obras como “O Círculo” e “O Balão Branco”, usa de um artifício para dar voz a seu dilema.

Ele está proibido de filmar, mas não de ser filmado; ele está proibido de escrever novos roteiros, mas não de ler roteiros já escritos. Jafar Convida então o amigo e também diretor Mojtaba Mirtahmasb para filmar um dia de sua vida. Não apenas um dia em sua prisão domiciliar, mas também a leitura/montagem improvisada de um roteiro seu, escrito antes da condenação.

Ao longo do filme, Jafar deprime-se cada vez que percebe a impossibilidade de fazer um filme apenas lendo um roteiro. Difícil não se comover com a sinceridade de seu lamento por não poder mais filmar. Isto Não é um Filme, apesar de sua relevância como protesto e resistência (o filme só está sendo divulgado porque foi contrabandeado para o Festival de Cannes 2011 escondido dentro de um bolo), poderia ser uma obra monótona. A narrativa, contudo, evita isso.

Utilizando muito bem os recursos de montagem, vemos as alternâncias do dia de Jafar; sua tristeza e seu esforço. São ótimos os momentos em que o diretor mostra trechos de seus filmes e conta detalhes interessantes dos bastidores e do ofício de fazer filmes.

No final, faz um jogo de espelhos. Enquanto é filmado pelo amigo, saca seu smartphone e passa a filmá-lo também. Neste momento, com uma simplicidade emocionante, deixa claro seu amor pela profissão que está impedido de exercer e o quanto ela está arraigada dentro de si. Ao filmar e ser filmado, diz ao amigo diretor: “quando duas cabeleireiras não têm o que fazer, cortam o cabelo uma da outra.”
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Cotação: * * * * 

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