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Permanecer ou partir. O trânsito entre uma escolha e outra é
a linha que sustenta Belleville Tóquio, dirigido pela estreante em
longa-metragem Elise Girard. O permanecer ou partir, aqui, não está presente
como uma dúvida clara. É muito mais um estado de suspensão, um limbo
inconveniente.
Julien (Jérémie Elkaim) é um crítico de cinema que antes de
viajar para um festival diz à esposa, Marie (Valérie Donzelli), que há outra
mulher sua vida. Diz a Marie que a ama, mas não há mais paixão. Quer um tempo
para entender seus sentimentos. Pega de surpresa, Marie retarda a assimilação
do rompimento, ao mesmo tempo em que descobre que está grávida. Quando Julien
também descobre a gravidez, retorna.
Esse é o início de uma hesitante relação em que claramente
não há mais amor, apenas uma substância viscosa que os envolve e mantém
próximos. Algo em irreversível deterioração. O que ele têm não é mais uma
relação, é uma doentia comodidade em não decidirem se ficam ou se partem.
Com algum humor, a narrativa trabalha esta relação através
da fraqueza de ambos. Julien rejeita, inadvertidamente, Marie e sua gravidez,
chegando a declarar asco por sua aparência. Mesmo diante de transtornos,
recaídas na traição e uma clara infelicidade, Marie também não se define sobre
a permanência de um relacionamento que a cada dia se deteriora.
Sem imergir no drama, mantendo um registro que se aproxima
da farsa burlesca, o filme se mantém na superfície de uma história que parece
tão indecisa em seus rumos e propósitos quanto o casal que retrata. Em meio a
tanta hesitação, fica o irritante em dois personagens pelos quais é impossível
sentir qualquer empatia. E um filme que quando se define, já deixou partir o
interesse do espectador.
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