sábado, 22 de outubro de 2011

CRÍTICA - Reus


REUS / Eduardo Piñero, Alejandro Pi, Pablo Fernández / BRASIL, URUGUAI, 2010 / 90 MIN. 
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Um retrato é só um retrato, a não ser que aquilo que o componha possa ser vinculado a algo para além de sua moldura. Por essa lógica, recortes só se tornam eficazes à medida que são capazes de dizer e mostrar mais do que dizem e mostram.

Reus, é um recorte que retrata um bairro homônimo de Montevidéu, no Uruguai. Bairro típico de uma semiperiferia, notadamente decadente, o lugar tem um forte elemento de raiz e pertencimento para a comunidade que vive nele. A diferença está no fato de que esta comunidade se divide em grupos com muito pouco em comum.

De um lado está a criminalidade mais rasteira, de viciados e trombadinhas, que levam o crack para as esquinas do lugar. De outro, está a criminalidade cuja miséria é atenuada por uma liderança e organização, um sentido de família e estrutura. Entre uma e outra, estão os comerciantes, que formam uma comunidade judaica, também fortemente enraizada no bairro, e que se sente cada vez mais oprimida pelo crime.

De textura seca, o filme cria esse retrato local, em que o sentido de família e pertencimento perpassa todo o tempo as questões de honra, dever e reação. Na composição dos elementos da criminalidade e do universo rasteiro e precário desse grupo, Reus se mostra convincente. Mas não passa daí.

Sua montagem não ajuda nem na fluidez da narrativa, nem no trançar dos fios que ligam os grupos e as pessoas. Fica apenas como um recorte cru, sem tempero ou nuances. Ao não tentar estabelecer relações para além do quadro que expõe, torna-se vazio de significado, não chegando a lugar algum.

O grande problema é o filme querer bastar por si só no bairro, no crime e nas classes opostas. Por não buscar vínculos que problematizem essas relações - sua evolução, involução ou simples estagnação - acomoda-se num retrato opaco, sem qualquer profundidade, limitado aos contornos de sua moldura.
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